terça-feira, 25 de agosto de 2020

IL DOLCE FAR NIENTE - Texto de Ivonita Di Concílio

 


DOLCE FAR NIENTE 

Ahhhhh... Como era bom aquele tempo em que nos alegrávamos quando, por um tempo, não tínhamos  nada para fazer. Tínhamos nosso emprego fora de casa e, nos fins de semana – as mulheres, geralmente – precisávamos  fazer a faxina pesada.

Quando terminávamos tudo e nos restava um pouco de ócio recorríamos ao velho exercício italiano  “il dolce far niente “ (o doce  fazer nada ). Era uma delícia e nos preparava física e emocionalmente para o retorno à rotina de duplo trabalho.

Agora, quando as frentes de trabalho estão fechadas para quem ainda trabalha e as tarefas domésticas se esgotam, pois a limpeza e organização de armários, estantes e similares já foram feitas nesta primeira semana de confinamento; quando passeios e visitas (tanto feitas quanto recebidas) estão fora de cogitação; e nossa liberdade constitucional de ir e vir está inviabilizada “sine die” esse nada a fazer se torna cansativo.

Na verdade, esta situação de insatisfação está sendo disseminada entre as famílias com muitas pessoas que necessitam, forçosamente, conviver 24 horas irremediavelmente. A não ser que haja uma prévia e objetiva coordenação, até o uso do banheiro poderá causar atritos.

Talvez a exaustão por manter uma família unida e feliz em tempos de “corona vírus” leve aos que temem ficar sós na velhice, uma outra ideia do que é “solidão”. Imaginem esta praga que enfrentamos no tempo das grandes famílias, com filhos (legítimos e “sobrinhos” espúrios), agregados  e serviçais, sem quaisquer informações sobre o assunto. Extermínio  total... 

Nesta minha concepção, o fato de viver sozinho (meu caso) traz certo conforto, pois não nos sentimos sós ou abandonados, uma vez que nos habituamos a este estado. Lógico que as facilidades que a Internet nos proporciona são valiosas aliadas e impedem uma total solidão e nos permitem acompanhar os fatos e nos protegermos mais, já que é mais difícil o contágio por aproximação.

Viver só não significa estar solitário. Basta usar um “dolce far niente” como venho fazendo: ler e escrever bastante.

Texto de Ivonita Di Concílio

 


Um comentário:

  1. Ando tão ocupada, sempre inventando, não sinto solidão.
    Tenho trabalhado tanto, que mal dá tempo de pensar em tristeza.

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