terça-feira, 17 de maio de 2011

Minha Primeira Boneca


 Ah! Como era feia a minha boneca!!!!! Feia muito feia mesmo!
 Não era uma boneca qualquer como as das lojas: de porcelana, rosada com um belo vestido, ou aquelas de marcas famosas de um material róseo cheirando a coisa nova, era sim, comprada na feira. Uma boneca de pano grosseiro, ou seja, de algodão cru, vestido de chita, mais era a minha boneca querida.
Chamava-se Hosana, minha amiguinha inseparável.
Não tinha os olhos azuis brilhantes nem cílios longos, tinha os olhos pretos, boca vermelha feitos da linha de bordado, já tão desbotados, mas era a minha boneca. A boca, então, não tinha traços delicados.
As pernas eram compridas; sem curvas, sem joelhos, sem pé, portanto não tinha dedos. Os braços então, tais quais as pernas, mas era a minha boneca. Seu corpo desengonçado sem formas perfeitas, mas era a minha boneca que eu gostava. Ah! E como eu me orgulhava disso!
          Pensava: já que ela não tem beleza, vou fazer mais e mais vestidos de retalhos de tecidos finos para vez em quando transformá-la.
Ganhei uma caixa usada de charutos, usei como baú para suas roupinhas. Em pouco tempo já era uma coleção. Troca daqui, troca dali, enfeitava Hosana, mas era só isso que eu conseguia... Enfeitá-la.
         O tempo passou... Outras bonecas mais vistosas eu ganhei, mas nunca   abandonei aquela boneca feiosa.
         Um fatídico dia, vendo  bonecas que dormiam e choravam nos braços de ricaças meninas, pensei numa idéia tampouco  brilhante. ( A minha não chora e nem dorme, mas posso fazê-la beber). E foi com esse pensamento inocente, que eu vi mais que de repente, a minha primeira boneca “ morrer”.
      A carinha de mofo pintada, portanto mais feia estava, mas era a minha boneca!!!
Perdi...
Enterrei-a  numa  cova no fundo do meu quintal, com toda honra e choro e um adeus à minha primeira boneca.    
Dora Duarte

(Autora do livro: “A menina que não sabia que podia sonhar”.
Florianópolis, 25/02/07

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