SUBSTÂNCIA ETÉREA
Eu sou poeta por imposição dos deuses!
Não era minha a vontade de ver nas pétalas de uma flor
alguma coisa mais que pétalas...
Um sentimento quase extraterreno me envolveu
no desejo de penetrar na corola de uma flor
e ir deslizando no interior do seu caule, até atingir as raízes
e beijar a terra
e sentir a sua retribuição no úmido beijo das águas
nas profundezas do solo.
Não! Não era minha esta vontade!
Não procurei o ventre da Terra para ali me implantar
e gerarmos as duas alguma coisa mais que barro.
Suas raízes é que me envolveram.
Seu sangue branco, quase etéreo misturou-se ao meu,
vermelho e presente
e juntos passaram pelas minhas veias e chegaram ao meu coração
que iniciou uma fase amorosa:
comecei a ver com novo olhar a beleza
das flores e dos frutos, do capim e da terra.
E da minha passividade feminina
e da atividade máscula do mundo penetrando em mim,
nasceu a minha poesia, que nem é minha!
Porque os deuses me obrigaram a isso
- que eu nem por sonhos sabia,
que eu nem querendo veria,
que só me impondo nascia!
Suraya H. Maia
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