quarta-feira, 15 de setembro de 2021

SUBSTÂNCIA ETÉREA de Suraya H. Maia

 


SUBSTÂNCIA ETÉREA

 

Eu sou poeta por imposição dos deuses!

Não era minha a vontade de ver nas pétalas  de uma flor

alguma coisa mais que pétalas...

Um sentimento quase extraterreno me envolveu

no desejo de penetrar na corola de uma flor

e ir deslizando no interior do seu caule, até atingir as raízes

e beijar a terra

e sentir a sua retribuição no úmido beijo das águas

nas profundezas do solo.

Não! Não era minha esta vontade!

Não procurei o ventre da Terra para ali me implantar 

e gerarmos as duas alguma coisa mais que barro.

Suas raízes é que me envolveram.

Seu sangue branco, quase etéreo misturou-se ao meu,

vermelho e presente 

e juntos passaram pelas minhas veias e chegaram ao meu coração 

que iniciou uma fase amorosa:

comecei a ver com novo olhar a beleza

das flores e dos frutos, do capim e da terra.

E da minha passividade feminina

e da atividade máscula do mundo penetrando em mim, 

nasceu a minha poesia, que nem é minha!

Porque os deuses me obrigaram a isso

- que eu nem por sonhos sabia,

que eu nem querendo veria,

que só me impondo nascia!

Suraya H. Maia 

 


 

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