segunda-feira, 18 de maio de 2015

Os olhos gritam



Os olhos gritam pedindo clemência, mas a fome não se dobra. 
A criança implora por misericórdia e vê a morte sentada em tijolos, no aguarde.
A eternidade de um túmulo paira sobre os gritos silenciosos do menor abandonado, como abutre cercando a presa prestes a sucumbir.
Homens e mulheres cumprimentam a morte pelo excelente trabalho. 
Mas a morte diz pesarosa:

- A fome que vai levá-lo. Estou apenas conferindo.
Satisfeitos, os homens e mulheres seguem suas vidas.
Brincalhona, a morte diz zombeteira:

- Qualquer dia visito vocês.

Mas os homens e mulheres não ouviram; ou não quiseram ouvir.

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