quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Poema de Suraya H. Maia - "Em vão...em mim"...


"Em vão...em mim"...

Meu pai! Estás morto...
Imóveis as tuas mãos vibrantes,
estendidos e fracos os  teus braços gigantes!
Em tuas veias não corre lustroso 
o teu sangue quente árabe,
que inútil corre em mim...
Cegos e vazios teus olhos 
com sua magnífica visão 
desse mundo que previas.
Teus olhos que eram iguais aos meus,
estão ainda em mim
- quando me olho os vejo -
espelho onde te entrevejo...
E me deixastes aqui, partícula de ti, 
que ainda vive, pra sobreviveres.
E em vão, como te imortalizo!
E em vão, como te memorizo!
Tento te ressuscitar feito um Jesus
no terceiro dia! E esse dia não chega,
grito CHEGA!
Chegar de todas as maneiras.
Esbravejo por dentro contra um Deus inalcançável...
Oh Deus implacável!
Morto, e ainda assim caminhas pelos meus pés,
que pisam incansáveis sobre a terra
pra te perpetuar...
Fostes o arco que me lançou
(como disse Gibran Khalil),
um arco que se esticou demais,
pra que meu voo fosse longo e alto -
se ergueu além de qualquer planalto!
Até arrebentar!
Mas se a flecha voa tonta e cai
quem vai me lançar de novo?

Morto! Estático! Marmóreo! No fim...
Mas como estás vivo! vivo! vivo!
em vão...em mim...

Suraya Helayel Maia - Poema em homenagem a seu pai Munir Abdallah Helayel 
28/02/1974


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