AGOSTO
Roxo fosco, a gosto
de contragosto.
Almoço gostoso
ou posto rançoso.
Revolto, cheiroso,
Frutoso, de meladas seriguelas
ou de amargo encosto
caroço na boca de banguela.
Desgosto de osso, indisposto.
Imposto ventoso, chocho, tosco.
Mosco de almas penadas
e apagadas velas.
Na dor, custoso.
Alvoroço roto, louco e torto.
Medroso, no oco do poço
a contragosto ouço:
Rei morto, rei posto!
TERESA BRASIL
SÓ QUEM VIVE BEM OS AGOSTOS É MERECEDOR DA
PRIMAVERA!
Lembro-me
bem. Foi quando julho se foi, que um vento mais gelado, mais destemperado, que
arrastava ainda folhas deixadas pelo outono, me disse algumas verdades.
Convenceu-me de que o céu começaria a apresentar metamorfoses avermelhadas. Que
a poeira levantada por ele daria lições de que as coisas nem sempre ficam no
mesmo lugar e que é preciso aceitar que a poeira só assenta depois que os
redemoinhos se vão.
Foi
quando julho se foi que a minha solidão me convidou para uma conversa. E me
contou de tempo de esperas. E me disse que o barulho das árvores tinha algo a
dizer sobre aceitação. E eu fiquei pensando como elas, as árvores, aceitam as
estações que, se as estremecem, também lhes florescem os galhos. Mas tudo a seu
tempo. Foi em agosto que descobri que os cachorros loucos são, na verdade, os
uivos que não lançamos ao vento. São nossos estremecimentos particulares que a
nossa rigidez de certezas não nos permite encarar.
O
mês de agosto tem muito a ensinar. Porque agosto é mês jardineiro, é dentro
dele, berço do inverno, que as sementes dormem. Aguardam seu tempo de brotar.
Agosto é guardador da boa-nova, preparador de flores. Agosto é quando Deus
deixa a natureza traduzir visivelmente o tempo das mutações.
Mude,
diz agosto, em seu recado de sementes. Aceite, diz agosto, com seu jeito frio
de vento que levanta poeira e a faz avermelhar o céu. Compartilhe, diz agosto.
Agasalhos, sopas quentinhas, cafés com chocolate, abraços mais apertados – eles
também aquecem a alma e aninham o corpo. Distribua mais afetos, que inverno é
acolhimento, é tempo de preparar setembro. E, de setembro, todos sabemos o que
esperar. Esperamos a arrebentação das cores, que com seus mais variados nomes
vêm em forma de flores.
Vamos
apreciar agosto, recebê-lo com o espanto feliz de quem não desafia ventos. Que
ele desarrume e espalhe suas folhas e levante suas poeiras. Aceite as esperas,
mas coloque floreiras na janela. Só quem vive bem os agostos é merecedor da
primavera!
Miryan Lucy de Rezende
Escritora e Educadora Infantil
Escritora e Educadora Infantil
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