sábado, 1 de outubro de 2016

Páginas de Sangue por Ivonita di Concílio


PÁGINAS DE SANGUE
Páginas de sangue nos contam os dramas de seres que se esvaem como se esvai a vida num aborto e são estampadas impiedosamente nos jornais e revistas e degustadas sadicamente pelos noticiários das televisões. São entes aviltados e humilhados em sangrentos ataques, aos quais a grande maioria não provocou ou, nem ao menos, entendeu.
Sangue provocado por adeptos do terror insano que decapitam,explodem, esfaqueiam e estupram mulheres e crianças gargalhando ante o pavor que provocam, sem o mínimo sentido de humanidade.
Por quê?
Todos nós sabemos que esse fanatismo radical baseia-se em religião cega e distorcida. Fanatismo inconsequente gerando uma perigosa e injusta desconfiança instintiva às etnias envolvidas nessa irracionalidade.
Entre os anos de 262 e 261 antes de Cristo, ocorreu a disputa da Guerra de Kalinga, travada entre o Império Máuria e a república indiana de Kalinga. Tudo culminou na grande batalha de Kalinga, que ocorreu nas proximidades do Rio Daya em 261 a.C. Mais de 400 mil soldados do Império Máuria cercaram apenas 63 mil soldados indianos.
Já mais recentes e próximas, no México, Século XVI, as batalhas durante o Cerco de Tenochtitlan eram brutais. Os astecas mataram grandes quantidades de espanhóis que chegavam às embarcações, mas não resistiram aos bloqueios de alimentos e água. Além disso, ainda sofriam com infecções de varíola trazida pelos europeus. Estima-se que 860 espanhóis e 20 mil americanos aliados tenham morrido ao mesmo tempo em que 200 mil astecas civis e guerreiros foram mortos. Isso e muito mais, a História conta com tinta vermelha que ensanguenta as páginas amareladas do tempo.
Ganância e selvageria se unem em conluios bestiais para aterrorizar e subjugar os mais fracos. O revide, geralmente, é inevitável e o quadro se expande e se aprimora em armamentos e estratégias bélicas aumentando a sede de ambição dos opressores que, além das conquistas materiais, ainda arrasam os monumentos culturais que encontram e infligem a degradação moral dos indefesos povos invadidos impiedosamente.
Estamos já na segunda década do Século XXI, e o sangue não é mais vertido de ferimentos resultantes da ponta de uma lança ou de espada; o embate corpo-a-corpo ou em liças onde audaciosos cavaleiros defendiam seu rei ou sua rainha são coisas que guardamos na memória romântica devido aos filmes da juventude.
Não... Depois da Segunda Guerra Mundial e da invenção da televisão e todos os envolvimentos eletrônicos que agora são imprescindíveis à raça humana (dita como “civilizada”), as armas de guerra dos séculos X e XXI são mais capciosas e menos “sangráveis”, pois apenas uma bomba faz os corpos vivos calcinarem. Horrível!!!
Mas... Voltando ao fanatismo não custa nada relembrar a famigerada Santa Inquisição dos tempos medievais. Suas “páginas de sangue” chegaram até nossos dias por relatos e interpretações pictóricas e que, talvez, pelos exíguos meios de comunicação, nos pareçam de pouca importância.
A Inquisição – também criada em nome da religião – teve suas páginas sangrentas por um bom tempo, com múltiplos tentáculos, inclusive aqui no Brasil através do catolicismo português que era trazido com os colonizadores lusitanos. Era, sem dúvida, um Terrorismo que assombrava aquela população desamparada.
Terrorismo – palavra e ato que o brasileiro conhecia por “alto”, como coisa de outro mundo – hoje toma corpo e se materializa. O que era apenas notícia fica palpável e o pior: uma ameaça a cada dia em qualquer ponto do Mundo! Mais sangue para manchar as páginas dos nossos dias, que ficarão para as gerações como “Os Anais Sangrentos do Terceiro Milênio”.

Ivonita Di Concílio (agosto de 2016)


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