sexta-feira, 14 de junho de 2019

POEMAS DITOS NO SARAU DA ALIFLOR


JILÓ
Aquele amor foi um livro 
não lido
apagado, esgotado,
sem edição.
Versos, reversos
Inversos,
sem nexo ou razão.
Romance de relance
fora do alcance
que ninguém jamais abriu.
Ou epopeia, que a plateia
nem mesmo aplaudiu.
Talvez tragédia, ou vã pilhéria
primeiro de abril.
Ou foi uma comédia, tão séria
que toda a gente
nem sorriu...
Aquele amor foi ...
quem sabe?
 um filme não visto
sem luz nem cenário
com sons de solidão
em que moça e mocinho
esquecem os papéis
e morrem no apagão.
Aquele amor foi mesmo...
um sorvete de jiló
derretido, lambido a sós
na cartilha da imaginação!

TERESA BRASIL


OUTONAL

Café preto, forte
pra acordar...
Da janela o acorde convida
 a outonar.
Girassóis amarelos
douram o sol ou
douram ao sol?
Num desmaio de aquarela
outonal !
Cogumelos austeros, pintam o chão
com tons severos...
Folhas tostadas,lembram
Torradas com manteiga
no pão...
A cigarra imprudente, estrilhaça
desafina , uma oitava acima...
A gaivota vadia, magistral
corta o azul
num vôo de alforria...
Na paleta de cores
outonais
borboletas, violetas fuleiras
dançam carnavais.

E neste ensaio de manhã de maio
ouro e tesouros
no caminho
do meu domingo outonal!

TERESA BRASIL


 

"AMOR... ESSE BRUXO"

O amor é feito de ondas que nos percorrem o corpo,
mas em vez de mergulharmos nesse mar
são elas a nos mergulhar....

O amor é feito de desejos a nos esquentar,
mas em vez de temermos esse fogo
"ardemos" para nos queimar!

O amor é feito de "pecados" a nos castigar,
mas ao contrário do que acontece aos santos
queremos ainda mais pecar!

O amor é feito de palavras a nos endeusar,
mas como somos deuses de mentira...
caímos do divino altar....,

Suraya Helayel Maia


"NOSSAS NOITES"


De que valeu a minha poesia
se já escreveram tudo sobre amores,
se exaltaram mãos, olhar e flores
e muitas dores...dores...muitas dores...

Que adiantou então falar de paz,
se a guerra explode, mata, persiste!
Se um dia acaba e ainda o homem insiste
é tudo triste...triste...muito triste...

Que louca fui ao esboçar um deus,
se a outros deuses outros vão rogar,
se há muitos santos para nos guardar
e muitos pecam...muitos vão pecar...
.......................................................................
Que importa os versos se estão errados
que importa as rimas se já foram feitas...
Se outros poetas se inspiraram em dores,
em tristes sinas, em cruéis açoites!
De que valeu a minha poesia?
Eu me inspirei, meu bem, em nossas noites...
em muitas noites...noites...muitas noites...

Suraya Helayel Maia




Um olhar de encantamento
A tropa segue cansada
por entre as casas da vila,
 tapada de sol, suor, poeira, vento e comprida.
Tocando, vai um moço campeiro riscado de japecanga
e marcado pelas butucas,
 sem saber naquele momento
que era seguido pelas frestas ,
pelas frestas do bolicho
por um olhar de encantamento,
destes que tal qual um feitiço,
tece um amor tento a tento,
ali entre latidos, berros, sol, suor, poeira e vento.
Pelo corredor aramado se foi o moço campeiro
sem saber que levou consigo como fiel companheiro
aquele olhar bombeado da filha do bolicheiro.
Foi aquele olhar, uma semente de amor,
destas que quando brotam
fazem um vivente num repente
se deitar no meio do campo ,
só para escutar o canto dos grilos
sentir o cheiro da amada
e o sangue pulsar nas veias,
e ver seus pensamentos
que teimam em não parar de pensar
serem levados por tropilhas andarengas
de nuvens que vão pra o mar.

Flavio Orsi de Camargo





Ecos de liberdade

25/06/01 (15:15)

Liberdade! Grita o corpo
na dor que arde... e tarda
na agonia dos grilhões.

Anseio em longínquo horizonte,
fonte de esperança
no tempo que se arrasta,
na lágrima que se desgasta.

Reflete a aurora de um tempo,
no tempo
de nova aurora que surge.
Amplexo do funéreo acalanto
no canto do sentimento
da liberdade que urge.

E planta a semente do fruto
em luto pródigo.

Arde a dor na tarde
do funéreo pranto,
e já nu sem manto
Nem encanto
o alquebrantado corpo
quase morto
canta a saudade
da liberdade santa.

Das entranhas, o grito mudo,
quase surdo, ecoa-se no invisível
e rompe-se indelével no som
da alma que parte.

Inexoravelmente
alforria-se o escravo inocente.
Liberdade!...Liberdade!...Liberdade!

Adir Pacheco 











Tudo Que Se Quer 
Gravação por Emílio Santiago 
part. Verônica Sabino)

Olha nos meus olhos
Esquece o que passou
Aqui neste momento
Silêncio e sentimento
Sou o teu poeta
Eu sou o teu cantor
Teu rei e teu escravo
Teu rio e tua estrada
Vem comigo, meu amado amigo
Nessa noite clara de verão!
Seja sempre o meu melhor presente
Seja tudo sempre como é
É tudo que se quer
Leve como o vento
Quente como o sol
Em paz na claridade
Sem medo e sem saudade
Livre como o sonho
Alegre como a luz
Desejo e fantasia
Em plena harmonia
Eu sou teu homem
Sou teu pai, teu filho
Sou aquele que te tem amor
Sou teu par, o teu melhor amigo
Vou contigo, seja aonde for
E onde estiver estou
Vem comigo meu amado amigo
Sou teu barco neste mar de amor
Sou a vela que te leva longe
Da tristeza, eu sei, eu vou!
Onde estiver estou
E onde estiver estou
Canto:apresentação de 
Janice Pavan no sarau em 11/06/19.

BOCA E CORAÇÃO

A boca diz muito. O que sabe e o que não sabe. O que quer e também o que não quer.
Transmite através da fala o que as demais partes do corpo estão sentindo ou o que estão a reclamar.
Fala o que os olhos vêem.
 Diz o que ouve o ouvido.
Alerta para o que passa pelo olfato.
Revela o que o pensamento está querendo dizer, saber, etc.
A boca mostra o que o espírito reclama.
Nesta análise simplória ou poética poderia ver a boca como nosso termômetro sensorial que tem o poder total sobre o conjunto que compõe o ser humano.
Ledo engano.
 A boca não consegue decifrar o que vai pelo coração.
Ela não tem a capacidade de sentir.
Sabe falar, todavia não sabe ler os sentimentos mais puros que fazem morada no âmago de qualquer pessoa.
O coração, este sim, tem uma fonte inesgotável de amor, carinho, amizade, bem-querer, paixão e tantos sentimentos que gratuitamente os distribui.
Então... Viva o Coração! ...E cala-te boca!  


Texto de Elírio Tejada Franceschi 




PRIMEIRA FILHA
Como te esperei!
Com ansiedade
E medo do desconhecido,
Recebi-te exultante e
Deixei-me impregnar
Das descobertas da nova vida.
Acariciei-te em meus abraços e
Cantei um acalanto;
Superei as más noites de pouco sono
Com o prazer de tua vinda;
Aprendi contigo novos valores
E me fizeste querer a vida.

Márcia Konder- Em 26/06/1981.


Para Zenilda
Meus pais sempre me falavam de Hoyedo Lins, o escritor, o amigo. Gostavam muito dele. E falavam de Zenilda, a esposa, com agrado. Hoyedo era o escritor. Zenilda, a esposa delicada, discreta, educada.
Um dia encontrei um livro de Zenilda na biblioteca dos meus pais, um romance “Reino das estrelas” com dedicatória afetuosa para minha mãe, Rosa. Surpresa por sabê-la escritora, já tendo publicado contos, pus-me a ler o romance. E gostei muito. Suave como a autora, a narrativa do romance flui e aborda temas delicados, mas com determinação, conhecimento e sensibilidade.
Outro dia, recentemente encontrei Zenilda, na calçada, no centro. Engendrou uma conversa para enaltecer a minha mãe e observei mais uma vez seus gestos delicados e seu afeto. Eu tinha um compromisso com hora marcada, mas não demonstrei minha pressa. Aceitei seu afeto e mostrei-me alegre.
Contudo, fiquei com uma pergunta para Zenilda. 
Essa pergunta: Zenilda!O que andas escrevendo?Quero te dizer o quanto me agradou o teu romance.
Zenilda! Agradeço-te por seres a Escritora que és.

Márcia Konder- Em 08/06/2019.



HOMEM
Existe um homem.
Alguns o chamam de: amigo, companheiro, tio, padrinho, irmão, filho, pai, compadre, missionário, mano, amado, amor.
Outros o identificam como: baderneiro, comunista, vermelho, desordeiro, safado.
Pra mim, este homem é tudo isso e muito mais.
É sinal de esperança, motivo de encontro, alegria, grito dos sem voz, companheirismo, aconchego, beijo na boca, certeza de amores possíveis.
Este homem fez parte dos meus sonhos, foi meu pesadelo, hoje realidade.
É por ele e por ele que levanto todas as manhãs.
Este homem me torna cada dia mais nós.
Ele suscita em mim vontade de viver, sorrir, cantar, gargalhar, corre na chuva.
Esse homem me faz mulher, menina, princesa, fada, bruxa e rainha.
Conheces esse homem?
Sabes desse homem?
Ele tem sorriso de menino, o mais lindo que alguém já presenciou.
Os olhos se confundem com o infinito.
Sua boca tem sabor de fruta colhida na estação.
Seu corpo assemelha-se a uma rocha.
A vontade que mora nele é algo incalculável.
Seu Abraço! Ah! Seu abraço!...
Seu amor é um misto de tempestades, vulcões e garoa de verão; quando fica indignado, sua fúria não tem limites.
Esse homem tem coração de anjo,sonha,chora, é real, grandioso, imenso, feito ondas do mar em dia de ressaca; avança demolindo, mas se derrama em bênçãos na humanidade.
Conheces esse homem?
Tens notícias dele?
Ele chegou, ocupou a minha vida. Tomou posse do meu corpo.
Sequestrou meu coração e não pediu resgate.
Se duvidares que ele exista, pergunta ao vento, à chuva, ao sol, aos rios,ao mar, aos pássaros.
 A natureza e todos os seus elementos contarão em prosa e verso um homem divinamente Homem, metade maravilhosa de mim.

Prosa poética de EVA DE SOUZA SANTOS ANDRADE, premiada com o primeiro lugar, lançada na Antologia “Poesias, Contos e Crônicas, Concurso para a Terceira Idade em 1997, promovida pela Fundação Viva Vida e UDESC.



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